As palavras.
As palavras que não eram desenhadas, diagramadas e escritas em sua mente tão despenteada. E chorava.
Tossia a dor de não saber expressar a dor que estava sentindo, a timidez tartarugueana de se esconder e não encontrar nunca mais a chave da porta da frente pra sair e ir ver como se faz pra conversar. E era uma atrocidade vê-lo chorar e tossir daquela forma pedindo que eu compreendesse todos os seus esforços bovinos de repetir a mesma lágrima, sem que eu conseguisse ler as palavras, porque não estavam escritas ou desenhadas. E ele chorava tudo o que não conseguia dizer e o que eu podia fazer? Era apenas um talvez, uma incerteza, um subjuntivo mal conjugado o que eu estava segurando em minhas mãos imberbes. Iverossímel estar tão atada aos soluços de alguém que não me permite visualizar o menor contato.
O que fazer?
Deixei-o.
Como se deixa um vestido que não serve mais e segui em frente, sem tentar perceber as letras, as nuances, as cores daquelas lágrimas mudas, com a sua própria linguagem inacessível, imcompatível. Deixei sua mudez húmida e coberta de folhas prenhes pela minhas palavras secas, murchas e bolorentas.
Um comentário:
Lindo, rebeca :)
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