sábado, 30 de maio de 2009

sem titulo

Chorava todas as palavras que não podia dizer. Chorava porque as lágrimas e as contrações na garganta poderiam lavar, levar tudo o que não podia contar. Talvez o (re)fluxo de suas idéias e sentimentos controvérsios conseguissem expandir-se nas lágrimas e escrever no seu rosto o que já não conseguia escrever no som das palavras. Talvez se umedecesse as suas entradas, as suas entranhas, o grito deslizasse para fora num processo tão rápido e tão instantâneo que não fosse mais necessário o bisturi e a tesoura. Queria parir as palavras dessa gestação longa e inchada e molhada de sal.

As palavras.

As palavras que não eram desenhadas, diagramadas e escritas em sua mente tão despenteada. E chorava.

Tossia a dor de não saber expressar a dor que estava sentindo, a timidez tartarugueana de se esconder e não encontrar nunca mais a chave da porta da frente pra sair e ir ver como se faz pra conversar. E era uma atrocidade vê-lo chorar e tossir daquela forma pedindo que eu compreendesse todos os seus esforços bovinos de repetir a mesma lágrima, sem que eu conseguisse ler as palavras, porque não estavam escritas ou desenhadas. E ele chorava tudo o que não conseguia dizer e o que eu podia fazer? Era apenas um talvez, uma incerteza, um subjuntivo mal conjugado o que eu estava segurando em minhas mãos imberbes. Iverossímel estar tão atada aos soluços de alguém que não me permite visualizar o menor contato.

O que fazer?

Deixei-o.

Como se deixa um vestido que não serve mais e segui em frente, sem tentar perceber as letras, as nuances, as cores daquelas lágrimas mudas, com a sua própria linguagem inacessível, imcompatível. Deixei sua mudez húmida e coberta de folhas prenhes pela minhas palavras secas, murchas e bolorentas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo, rebeca :)

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