sábado, 28 de março de 2009

Caixa de costura

Quando ela me olhava daquele jeito, quase me pedindo para ser eu, quase me pedindo para ficar, em duas pontinhas de ciúme costurados com linha delicada ao seu rosto.

Quando ela simplesmente não compreendia o que eu dizia e apontava para mim os botões tantas vezes polidos e aquebrantados, tentando metamorfosear-se em pontes de intimidade.

Quando eu amei pela primeira vez alguém igual a mim e não tive medo de sempre lhe olhar os botões, mas tive medo de lhes desvelar e riscar com minhas penas afiadas .

Acontece que não podemos sempre.

Não podemos.

Às vezes apenas precisamos ser costuradas, ser seguradas, alguma peça de nós está solta, precisando um alfinete, dois botões.

Mas fomos incapazes de mostrar, de pedir, de gritar.

E ficamos. Sem. Completamente,

Um pedaço aqui, outro acolá e dois botões que não nos pedem mais para ficar.

Um comentário:

Thiago Fonsêca disse...

Reação: interessante.

Sim, interessante esse seu texto. Achei ele diferente dos outros. Impressão minha?

Frases curtas, cortadas, com silêncios.

Gostei muito.

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