terça-feira, 5 de julho de 2011

Antes do cheiro do café

Como nunca acordava às cinco da manhã, não conhecia a brisa que gelava bem de leve as coxas, nem a mudança quase que momentânea do anil no céu por entre o cerrado e,  pior que tudo, não sabia a impressão de fumaça que trazia o cheiro das primeiras tapiocas do dia, aquelas ainda sem o borralho, ainda sem os resíduos, as tapiocas cheias do cheiro do fim da noite. E, por entre a bifurcação no tronco de uma árvore, podia ver uma única folha de coqueiro balançando, como que desapercebida de tronco, no precioso instante em que, do outro lado do quintal, o céu se rasga e deixa cair umas faíscas totalmente etéreas, quase falsas e, como tudo o que estava vendo, não lhe era familiar e, não o sendo, prendia sua atenção de uma maneira dispersa, enfraquecendo-lhe as pernas pelo medo de sentir-se ela mesma uma folha de coqueiro desapercebida de tronco, bailando solitária num céu incrivelmente laranja e preenchendo-se toda do cheiro da tapioca, muito antes do cheiro do café. 

Um comentário:

Fernando de Souza disse...

Eu conheço esse sentimento.
Se me pegasse a insônia e pusessem-na de-trás-pra-frente, seria assim.
Esse texto parece uma insônia ao contrário.

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