sábado, 29 de janeiro de 2011

Trecho

Em tardes assim, em que parece que nada vai acontecer, em que se passa o tempo a olhar o tempo deslizando por entre o azul interminável do céu, imaginando cenas transparentes, etéreas, indescritíveis. Em tardes assim, em que nossos pensamentos passeiam incontíveis pelas copas dos cajueiros, arriscam-se pelas galhas velhas e frágeis em busca de memórias empoeiradas, em busca de histórias guardadas. Em tardes assim queremos fechar os olhos e abrir o relicário de árvores antigas, cheio de mitos e aventuras e casais enamorados; queremos deitar e respirar todas as lembranças alheias tomando-as para a nossa própria vida, no momento tão sem significado, tão miúda e sem copa, sem tronco... sem raiz. E parece que nos tornamos parte da tarde, do seu azul infindo, da idade repleta dos cajueiros e das mangueiras, e ganhamos raiz primeiro. Raiz que nos faltava, desequilibrando-nos em sua falta.

2 comentários:

Fernando de Souza disse...

Olharmos pra fora e preenchermo-nos com o que refletimos... Parece bom, não é? Parece que tudo ganha voz, tudo se comunica, tudo diz. E ouvimos tudo, e tudo é tanta coisa... Parece que nem o tínhamos dentro de nós, parece que nem nos reconhecemos naquele que olha, mas no chão, nas gretas, nos vincos das folhas, na beleza tão óbvia que lhes conferimos como se houvesse somente fora de nós, somente em nossa imaculadora observação. Já tudo (que é tanto) nos macula com vida, com a sujeira mundana e terrenal da vida. Parece mesmo que a vida precisa de espelhos para existir, como se nossas raízes só crescessem querendo se tocar, querendo ser floresta onde o vento mova-nos a todos, e bailemos, e existamos como um trigal, indissolúveis, como a cabeleira vermelha daquela menina que sorri com o rosto sujinho de manga e terra, linda, linda.

Fernando de Souza disse...

Esse eu tomei pra mim MESMO...

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