terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Conversa de madrugada.

T.O.:
E o tédio, juntamente com o sono, desabam como chuva de verão. Repentinamente e com força. Mas, ainda como tal chuva, passam logo logo.

R.X.:
E nem chegam a estalar a penungem das costas ainda dormentes da vontade de esticar-se.

T.O.:
E no fim, sobram apenas o cheiro de chuva e de preguiça, feito mormaço no asfalto.

R.X.:
Respirando bem fundo dentro das sonolências dos errantes. Ou das vadiagens marginais que ignoram o toque de recolher sirenado sutilmente pelo escuro. Errantes de linhas tortas.

T.O.:
Então surge o confronto: Vadiagem X Preguiça. Vícios confrontados. Um surge pela busca, pela sede de aventuras e desventuras. O outro, pobre, só quer o Status Quo dado pelo físico que já dizia: Um corpo que parado está, parado deverá ficar. Ou não...

R.X.:
E, talvez, apenas num átomo de certeza, o mormaço preguicento da noite saia pra vadiar uma vez mais e ignore a presença pesada do sono que teima em alcançar seus níveis mais obscuros.

T.O.:
Ou então nem ignore. Talvez saiam de braços dados, pelos caminhos tortuosos dos devaneios. Quem saberá o que mentes sonolentas e tediosas pensam, não é mesmo?

R.X.:
Ou ainda se pensam, ou se apenas vão não-pensantes, com suas mentes sempre cheias e sempre vazias, sem tentar desenhar nenhuma palavra, apenas com aquele momento de sensações não rabiscadas. Apenas indo, de braços dados ou dedos ligados ou pernas compassadas num lugar qualquer cheirando a calor e a chuva que caiu.

T.O.:
Ah... caminhar sem eira, nem beira, nem pensamento, nem vento. Andar pela linha do “cogito, ergo sun”, apagando-a cá e acolá com os pés, tal qual um menino travesso...

R.X.:
e tal qual um menino travesso esquecendo-se logo em seguida do peso de seus pés por aí.

T.O.:                                                                                                                                                   
Tropeça e cai. Para qual lado cairá? Existir ou não existir? Eis a maldita questão, maldito crânio!

R.X.:
Desfraldando-se, talvez um não-existir atraia muito mais pela sua possibilidade de vir a ser e de vir a formar-se, enquanto o existir de fato concreto e consumado importa tanto aos tantos outros que cai em chuva de verão, em gotas sonolentas e entediadas.

T.O.:
Atrair, atrai... Mas a existência consumada, verbo conjugado e chuviscado, nos faz tragar a preguiça. E cheirinho de preguiça, assim como de chuva de verão, é tão delicioso...

R.X.:
e perigoso aos narizes e orifícios espirratórios do nosso século poluído.

T.O.:
Nada que um bom lencinho de sensatez, vez ou outra, não resolva.

R.X.:
Vez ou outra.

T.O.:
Como as chuvas de verão!






Um comentário:

Je disse...

Gostei! :)

Histórico


as primeiras ideias...