sexta-feira, 24 de julho de 2009

Crônica de manhãzinha

Levantou e foi como sempre foi: sentiu aquele frio nos pés e hesitou em sentar novamente, ou melhor, em deitar novamente, mas manteve-se quase-firme na sua tarefa de tirar a noite toda de cima de si.

Continuou pisando no sono frio da cerâmica acinzentada do seu quarto, coragem por coragem, já alcançando o banheiro, já vitoriando o lençol jogado e os travesseiros afofados e a penumbra que dava asilo secreto às chinelas preguiçosas, já fechando a noite de seus olhos, sensíveis à claridade do lado de lá das persianas fechadas de madeira envernizada de poeira e mofo.

Toda essa concentração no próprio trajeto para não ouvir o vibrar endiabrado da ordem de levantar, tic-taqueando os minutos que já estava atrasado, exalando esse som que a ordem tem!

Um comentário:

Fernando de Souza disse...

Um escritor, tenho aprendido isso ultimamente, faz-se reconhecer pelos olhos. Eles são diferentes, de uma tristeza atenta. São paradoxais. Estão observando de dentro de um aquário. Ou de uma ostra. Ou de um submarino. Um escritor é alguém que, mesmo lá, imiscuído aos seus pares, é ímpar, não está, nega-se a estar.
Pra onde você foi depois de levantar, eu me perguntei inicialmente. Pra dentro, respondi.

Histórico


as primeiras ideias...