segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

36 meses e algo mais.

Pra ser sincera não-lembro, mas sinto a saudade de quem gostou e não quer mais. Aquele lugar, aquelas pessoinhas correndo pelo corredor e descendo as escadas sob os protestos dos pais amedrontados. Uma, duas, três quedas. Alguns ferimentos. Tantos castigos quanto são os dias da semana. Choro esganiçado. Algum carinho, e muitos beijinhos. Todas as crianças têm memória curta e amor longo. Amor de ida e muita volta. Que o digam as noites de pesadelo; de gripe e tosse; de xixi na cama. Honestamente, não-lembro mesmo, eu não fazia xixi na cama, nem chorava à noite acordando a todos. Não-lembro e era bem assim.

Não-lembro tão bem do susto. Aquele susto. Não-lembro cada vez que olho minha mão. Da preocupação dos meus pais. Da babá. Dos parentes. Dos amigos. Não-lembro também da recuperação. Da retirada dos pontos. Essa lembrança é bem viva na minha não-memória.

As visitas! Como não-me-lembro bem das visitas! Visitas aos vizinhos. Às portas fechadas que escondiam brinquedos alheios e filmes que passavam ao mesmo tempo em todos os lugares. Sim, eu fiz parte dessa brincadeira. Era muito novinha; eu não-lembro. Foi bom! Foi muito bom correr pelo corredor – ótimo nome, quando se trata de crianças – e cair. Cair muito! E chorar. Porque cair dói. Eu não-lembro muito bem: caía muito. Juntava toda a turma e, juntos, caíamos. Claro, caíamos porque corríamos.

Não-lembro, mas brinquei de boneca. Muito. As minhas bonecas – de cabelos cortados e assanhados – se juntavam às bonecas das outras. Tomavam chazinho e conversavam conversas-de-comadre, enquanto fazíamos a bagunça que tiraria minha mãe dos eixos, quando esta chegasse cansada do trabalho. Não-lembro perfeitamente da minha boneca favorita – de pano e simples, não era Barbie nem Susi – e do seu esposo – um ursinho encardido. Antes de dormir eu dizia boa noite e os cobria no meu lençol. Claro que eu não-lembro disso! Como poderia ser diferente?

Não-lembro que dava banho na minha Meu Bebê. A papinha. Saía com ela para passear – pelo corredor, no primeiro andar, louca para ir até o salão no térreo, onde minha mãe estava cuidando dos cabelos. Não-lembro também: eu me escondia atrás do sofá, com meu irmão, quando a babá dizia que era a hora do banho. Ria muito, baixinho, observando ela me procurar. Chorava muito, alto (!), quando ela me encontrava.

Do meu irmão eu lembro. Minha memória é fotográfica – e está toda guardada na mala preta e nos porta-retratos espalhados pela casa. Ele era carinhoso comigo e me dava beijinhos – o que fez isso mudar? Brincava comigo – ou me chamava pra brincar com ele e com os amigos dele? Não-lembro dos amigos dele. Tinha aquele loirinho. Aquele de quem eu me lembro pela memória da minha mãe. Aquele que brincava – brigava – com meu irmão. Como estará ele hoje?

É nostálgico, sobretudo, não-lembrar dos olhinhos. Dos quatro olhinhos. Dos quatro olhinhos brilhantes. Do terreno vazio, na Messejana, que fitavam. O terreno que eu só vi depois. Tão felizes; esperançosos; futurísticos; apaixonados. Ainda hoje o são. Não-lembro tão bem de tudo isso. Se sou quem sou hoje meu café da manhã foi assim, ou melhor.

11 comentários:

Anônimo disse...

36 meses....
que coisa não?

Anônimo disse...

Oi!
Sem dúvida essa é a melhor fase de nossas vidas, qd somos crianças queremos crescer, mas qd crescemos reconhecemos o quanto ser criança é bom!
Sem falar nesse momento nostalgia!
hehehehe
Ficou mt bom!
Nasceu p isso
bjo

Anônimo disse...

Bom... eu não tenho o que dizer... vc é uma artista nata, e qdo vc publicar tudo eu vou ser o primeiro a comprar... desde que venha autografado! ^_^

;***********
Feliz Ano Novo, Bek!

Anônimo disse...

naum li inteiro... mt confuso pra mim... u.u

=***

Anônimo disse...

A infância costuma ser a melhor época da vida de uma pessoa... tenho boas lembrançar da minha... mas aew, esse texto é autobiografico ou é ficticio??

Rebeca Xavier disse...

Para quem não lembra... a infância está toda aí.

Anônimo disse...

Retifico... a primeira infância está toda aí.

Anônimo disse...

Tempo, tempo, tempo...

Saudade de um tempo que não havia preocupação além, talvez, de ser feliz...


E quando vc vai publicar um livro?

=******

Anônimo disse...

Nostalgias? Eu cansei, sabe.. cansei pq me cansava, dava um dor no peito. Sou mto apegada ao passado, aos meus amigos, às coisas simples.. é tao complicado, é tao doloroso as vzes.. eu morro aos poucos com isso! axei melhor deixar as nostalgias de lado, pelo menos um poco, embora eu nao consiga plenamente!

ps: destrua seu blog, leia um zine!

Anônimo disse...

Interessante!!!Gostei e adimiro o tema qem dera eu ter a mesma capacidade para tal raciocinio...logo terei!!!!rsrsr bjss

Anônimo disse...

Eder

Te passo o retrospecto pelo msn.

Beijos

Histórico


as primeiras ideias...