quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Cismei que sou escritora

Parte 1 – Entre cismas e desejos

Sou, sempre fui e, temo, sempre serei uma mula empacada, com o perdão pela expressão, que só se move à força, aos trancos e barrancos. Em outras palavras: geniosa. Ou ainda, cabeça-dura. Se cismar com algo, ninguém é capaz de me tirar dessa cisma. Desisto dela, sempre, por outra igualmente complicada e igualmente simples. Para evitar a confusão, eu explico: em geral, cismo com coisas simples, mas sempre as complico seqüenciando uma frustração. Contudo, desisto apenas depois de experiências que me provem minha não-aptidão para realizar o objeto da cisma. Entretanto, ela fica lá, ou aqui, escondida entre tantas que estão por vir e outras tantas que não se foram.

De fato, elas nunca me deixam por completo; ou eu nunca as deixo irem embora. Elas mudam de significado e importância, não deixando de existir. Por vezes, cismo em não cismar, ou em nada fazer. Outras tantas vezes, cismo que já cismei demais e pretendo, agora, apenas aproveitar o que já foi cismado outros tempos. Gozar de passatempos que já me tomaram preciosos, porém substituíveis, neurônios, uma vez que, quando cismo em realizar algum feito, não percebo nada mais importante do que isso ao meu redor. As cismas, enfim, se tornam simples desejos, atividades de lazer, para quando estiver com tempo ocioso.

Esses desejos se acumulam no decorrer da vida. Cada cisma esquecida se torna uma atividade de lazer, um hobbie, dando lugar a uma outra. Esta me toma o tempo que aquela tomava; até que me saceie, ou frustre, e assuma sua posição de hobbie, também. É um círculo vicioso, ou, em termos mais elitizados, um ciclo. Tentando não ser redundante, o que quero dizer é que uma cisma nunca é uma cisma para todo o sempre, porém, nunca deixa de existir. Ela tem sua vida paralela a minha: enquanto estiver em seu ápice, eu sugarei dela todo o conteúdo que me for útil, ou tudo que ela tiver a me ofertar enquanto me inspirar forte desejo. Passada a fase de profundo interesse, eu a procuro apenas para preencher lacunas em meu tempo ocioso, o que eu chamo de “Ócio criativo”.

Sempre acreditei em exemplos, então, nada me custa exemplificar: a dança já foi uma cisma para mim, quando foi novidade. Cismei que queria aprender a dançar e, para tanto, assistia a filmes e filmes, escutava músicas e músicas e dançava estranhamente por horas sem parar. Até que cansei de tentar fazer algo que não conseguia. Porém, ainda gosto de dançar; danço quando me dá vontade, quando estou com minhas amigas, quando toca alguma música, mas não dispendo mais tempo tentando aprender a dançar; já descobri que não tenho aptidão para isso. Talvez eu tenha desistido sem tentar, mas apareceram novos horizontes e novas coisas para fazer. Eu me encantei por essas novidades e cismei em buscá-las e aproveitá-las.

Nem todas as cismas são saudáveis. Nem todas me fazem bem, como a dança. Nem todas se tornam desejos; em outras palavras, nem todas deixam de ser cismas. Cismar em desistir. Esta sempre esteve comigo, ou em mim. Talvez eu tenha cismado em não deixar de cismar com isso. Em contraponto, como um paradoxo pessoal, cismo em não desistir; o que caracteriza a cisma em si, de certa forma; o que me caracteriza como uma mula empacada. Encontramos agora um ponto a ser esclarecido, inclusive a mim (alguém se manifesta!?): essas últimas cismas citadas se confundem com desejos, ou hobbies. Elas se manifestam em diferentes intensidades, podendo assim caracterizar cismas periódicas, ou desejos periódicos, em um movimento, acredito, sazonal. Ou não. Divago muito. Divaguei muito?

Parte 2 – Enrolar para chegar à lugar nenhum

Passar a tarde deitada na minha cama me faz pensar em quantas coisas podem estar acontecendo, no mundo todo, no exato instante em que me deixo deitar sobre as molas do meu colchão. Meu pensamento vai longe e passa por cada país desse vasto mundão – na verdade se limita aos países que minha memória conhece –, por cada pessoa e por cada mania – por cada cisma – que se pode encontrar com uma memória não muito boa e uma criatividade que me causa dores de cabeça e supre as necessidades da memória.

Aproveito assim algumas de minhas tardes – quando não me deixo vencer pelo sono bom da cesta – apenas conjeturando sobre os afazeres de outras pessoas, já que, eu, estou totalmente ociosa. Algumas vezes me pego idealizando sonhos e desejos. Às vezes penso que uma de minhas cismas mais engraçadas – para mim, é claro – é essa de ficar sem fazer nada, imaginando o que eu poderia estar fazendo se fosse outra pessoa. Na maioria das vezes eu acabo dormindo e não penso em mais nada, talvez eu sonhe, mas não lembro quando acordo. Acordo com muita dor de cabeça.

As baratas – que são seres de outro planeta – sobem na minha cama e fazem uma lavagem cerebral em mim, para que eu faça de conta que elas não existem e não vá atrás delas com Baigon para exterminá-las. Como eu sei? Isso explicaria as dores de cabeça. Em geral, as pessoas dormem e acordam sem dor de cabeça. Eu durmo sem dor de cabeça e acordo com ela doendo. Ou durmo com dor de cabeça e acordo sem cabeça! Não! Não sem cabeça, apenas... ah, deixa isso para lá.

Na verdade eu estava falando de outra coisa. Não que eu lembre do que era, mas era de outra coisa. No final das contas, nunca falo o que eu me dispus a falar - e nunca faço o que me dispus a fazer, talvez por isso me confunda toda. Ou até falo, mas enrolo tanto antes que perde o sentido. Ou até preserva, mas passei por palavras desnecessárias. Ou até necessárias, mas não muito. Depende do ponto de vista, meu professor dizia referencial. Depende do referencial. Do que eu estava falando?

Parte 3 - Enfim, as letras.

Do alto dos meus dezoito anos, quase dezenove, cismei com tantas e inúmeras coisas, que minha imaginação não poderia enumerar. Muitos dos leitores, ou, pelo menos, os que conseguiram chegar até a parte 3 disso tudo, devem estar se questionando sobre o assunto do texto, tendo em vista o título. Alguns podem até estar pensando que a autora que vos escreve não tem nada mais interessante a fazer e por isso fica escrevendo essas coisas sem sentido que não acrescentam nada a ninguém. Não peço perdão! Eu apenas divaguei sobre cismas, desejos e manias. Fui, inclusive, bem sucinta em toda essa dissertação. Em meus planos constavam mais 4 partes, mas minha ansiedade me impele à finalização desse texto.

Desde sempre gostei de escrever. Pelo menos desde que aprendi essa brincadeira. Contudo, nunca havia atinado para a maravilha que é escrever, ou pra forma como eu escrevo com facilidade. Sempre me interessei em demasia por outras atividades, mas nunca deixei de escrever com freqüência. Por esse mesmo motivo, desenvolvi a escrita como não desenvolvi nenhuma outra atividade. Escrevia e escrevo sem perceber, sem sentir. O mesmo não acontece se eu me dispor a desenhar. Às vezes o desenho sai, às vezes, bom, às vezes, nada. Eu não acompanhei o desenvolvimento da minha escrita tão de perto quanto tentei acompanhar o desenvolvimento das minhas cismas, manias e desejos. Ela trilhou, sozinha, seu caminho. Nossa, que estranho! Minha escrita tem vida própria!!

Enquanto eu me frustrava tentando realizar tantas coisas ao mesmo tempo, escrevia. Enquanto eu sonhava tão alto quanto a criatividade jamais voou, escrevia. Enquanto ficava dormindo, escrev... bem, não escrevia enquanto estava dormindo, mas escrevia quando acordava, também vale! Sempre cultivei diários, cadernos de poesias, cadernos de textos e textos e textos. Era a minha forma de matar as pessoas que me faziam raiva em algum acidente sinistro, ou um suicídio macabro, ou um homicídio hediondo; sem ir presa, ou sofrer qualquer tipo de conseqüência.

Acabei descobrindo que tenho mais que prazer em escrever. Descobri também que não escrevo tão mal. Descobri que me faz falta o desenredear das palavras no papel, maestradas por mim, mesmo que eu não tenha lá muito controle sobre elas - mocinhas danadas. Descobri que é algo que se desenvolveu dentro de mim, sem que eu precisasse quebrar muito a cabeça. É natural. Agora, cismei que sou escritora! Ponto. Alguém quer contestar?

5 comentários:

Anônimo disse...

as palavras são mágicas e tem um poder impressionante! escrever é bom demais e eu sei bem tudo que você disse aê.. passei por isso também e estamos sempre evoluindo para aumentar nossa capacidade de chegar à literariedade. não me atrevo, como você, a dizer que sou escritora.. como disse a Odalice, é preciso passar pelos canais de legitimação... mas escrever por si só, como fazemos, já é um ato de coragem!

é isso!

bjs.

Anônimo disse...

palavras saum mt coisa, jah foi mt para nós... jah escrevemos mt um ao outro... tah, eu nunca escrei mt, mas vc gostava... com o tempo, foraum acabando os assuntos, passamos mt tempo assim... sem quase nos falar, sem palavras... isso estragou td... a falta delas... eu tinha mt mais pra falar, mas, naum aqui... gostei do texto... pode naum parecer, mas, li todinho... te adoro moça... pra sempre... =***

Anônimo disse...

Rebeca, sem dúvida essa última foi a melhor parte! pelo menos eu achei! xD~
muito bom mesmo...
;*********************
vc tem muita facilidade em lidar com as palavras...diferente de certas situações, como vc kis dizer.Nesse ultimo texto, vc parecia tão segura q nunca mais havia visto! adorei! ^^
;************
foi legal hj tbm! conversamos como nunca ;P~
nós 3! faltou a Arik ;/
bjao!
ateh outro dia! ^^

Anônimo disse...

adorei o texto! :~~

No meu caso, sempre rabisquei, desenhei...enfim, bastava ter um lápis e um pedaço de papel ou algo "riscável" por perto. XD~~



BJos
*tssssssssss*

Anônimo disse...

Não contesto. Não contestarei. Nunca. Até porque sempre disse que você tem dom para escrever, que escreve muito bem.

Insista nesta cisma de escrever, pois nela reside o teu futuro.

Besos Bek,
Te amo e te adoro!

E dia 02 de novembro provavelmente eu apareça ai...

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