Tinha uma música abafando
o sons do dia e, por trás da música, tinha risos que escondiam um segredo num
diário fechado debaixo da cama; que, cúmplice do diário, escondia as molas
fracas e as marcas no colchão e, passeando por tudo isso, pela música, pelos risos,
pelo segredo pelo diário pela cama pelas molas fracas estávamos eu e meus
gritos.
Tinha também um cachorro
preto que, acho, me questionava sempre, tudo, mas nunca obtinha resposta, pobre
do cachorro. Para ele, também, acho, a música existia naquela manhã abafando o
som do pão no desjejum. Para ele, acho, naquela manhã, a música também abafava
os sorrisos e os segredos e os diários e as camas e as molas fracas da casa
toda porque ele me questionava.
Eu tinha dois olhos vivos
fixados em mim e, bruscamente, sentia o som do dia novo, que descia meu corpo e
se alojava na fralda, sem qualquer amparo meu, ou de meus gritosgemidosmúsicas.
E, por fim, tinha a minha
mulher.
Éramos, então, eu que
gritava, a música que abafava o som da manhã, o cachorro que questionava e a
mulher. Para quem, acho, havia a música naquela manhã, que escondia as molas
fracas do segredo cheio de sorrisos no diário debaixo da cama perdida no meio
de sua manhã atribulada.
A mulher, que era minha,
ouvindo meus gemidos, vinha ver o que eu queria e me passar o relatório da rua.
Eu não queria. Não que tivesse escolha, mas eram muitas informações e eu me
concentrava muito fortemente em controlar meu corpo. Que gemia.
E a mulher, supirava o
cansaço de me cuidar todos os dias. E a música, como mãos que doem, parou.
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