domingo, 12 de fevereiro de 2012

Uma folha que caiu


Lembro-me dos almoços de finais de semana na casa da nossa avó. Bem amanhecia, sabíamos do que aconteceria: íamos passar o dia na casa da vovó. Eram favas contadas: almoçaríamos bife com batata, dessas cozidas no vapor da carne.

Lembro-me de que, naquela casa sempre limpa, sempre clara e organizada, havia uns almofadões decorativos com os quais nós os primos criávamos as mais diversas habitações e brincadeiras sob os olhares azuis e meticulosos da avó. E havia, também, uns ladrilhos azulados e uma atmosfera de aconchego e de história, como se a casa quase pudesse falar e demonstrar carinho. Por todo o lugar, o capricho e o cuidado dela: no tempero, no asseio, nas cadeiras da varanda, que deveriam, aliás, permanecer no mesmo lugar.

Lembro-me de minha avó constantemente ocupada e apressada em dar conforto, em preparar o almoço. E lembro-me da tagarelice: ela contando a todos as histórias de não-sei-quando-e-antigamente.




A nossa mente é engraçada e, quando menos esperamos, lá estava ela nos contando a mesma história, exatamente com os mesmos detalhes, e aquela senhora ativa e inquieta, rapidamente, mostrou seu lado mais frágil. E o cheiro do bife com batatas deixou água na boca da memória, por mais que eu tentasse reproduzi-lo nos meus domingos de cozinheira. E a atmosfera da casa transformou-se, lentamente, num pedido tácito de atenção e de cuidado.

Fez jus à sua personalidade forte, à sua religiosidade: só se foi quando sua missão havia sido cumprida; quando se encontrou em paz e em trégua com aqueles cuja vida foi adubada pela sua própria, porque isso era certo e justo. Posso não conseguir reproduzir o cheiro de sua comida, mas consigo relembrá-lo vivamente, em paz e abençoada, porque ela me ensinou a dizer “amém”.

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