segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Veneza, 28 de novembro de 2059

Querido Diário,

Acho que tenho sido irregular com você. Na verdade, tenho sido fria e omissiva. Passo séculos sem escrever e sempre volto com a mesma desculpa. A verdade, quase sempre, reside na preguiça e na falta de inspiração. Poucas vezes o cansaço ou a vergonha me impelem a te guardar sem uma letra escrita. Ultimamente tenho escrito pouco. Versos, frases, ficção ou realidade. A ponta da minha caneta quase secou, morta e sem utilidade.

Gastei mais tempo sentindo do que idealizando; vivendo do que desejando. E descobri que os meus desejos vão se realizando sem eu perceber. Sem eu aproveitar. Encantei, sim, um lindo homem. E com toda minha utopia doente, eu o afastei. Utopias devem se limitar à ponta da caneta, bem segura pela ponta dos dedos, para não escapar e escrever desenfreadamente, ainda mais do que já escreve. Nunca devem chegar à ponta língua, antes, se disseminando por todo o corpo.

Minha realidade é oposta à criação de minha caneta. É cotidiana, é sorridente, é mascarada e é solitária. É mentirosa, é doce, é meiga e é agradável. Vilã. Bondosa. Minha realidade é o conflito contínuo do que quero ser e do que consigo ser. Conflito contínuo do que sou e do que minha caneta me escreve. É típica. Nada, nada utópica. É boa. É livro, é aula, é riso, é fuga, é praia. Amigos, amigos, amigos. Minha realidade é amigos. Beijos raros. Abraços amontoados em cima dos meus horizontes. Piadas. Cerveja. Um refri e um salgado lá no Bené. Desconhecidos amigos. Minha realidade é uma Teoria de Bosque sem árvores. Pés de manga. Pés de amigos.

Todo mundo precisa de um mundo. Eu não sou todo mundo, sou um mundo sem mundo. Sou perdida no espaço. Pouso de mundo em mundo. E tenho abrigo no mundo dos outros, dos outros amigos dos outros. Amigos que são colegas e conhecidos, sublimes desconhecidos; eu os tenho aos montes. Dou-me completa. Obra completa. Parla! E parlo. Não me entrego jamais, nessa guerra sou a minha única derrota, minha única vitória. Namorado é complicado, muito. Minha realidade é amigos. Amigo é corriqueiro. Fala-se besteira, escolhe-se um ou dois. Confia-se. Amigo tem outros amigos e não é traição.

Namorado tem repercussão intergalaxical. Vem cada medo bobo, receio besta. A vida é tão curta e a minha passa tão rápido, pouco proveito. Beijos raros. Toques extintos. Ainda espero por mim. Essa não é a realidade que conta a ponta da minha caneta. É a minha. Tantos amigos. Poucas amizades. Tanto e tão pouco. Barba e cabelo. Deixa o bigode aí. Casa e comida. Deixa a roupa contiuar suja. Não tenho estrela.

E não parei tão cedo. Nem parei. Empunhei a caneta pra dizer que sou feliz assim. Sou triste e vivo feliz. Minha realidade é boa. Não é tesuda. É boa. Namorado é complicado. Tem que confiar. Confiar. Isso quase nunca dá certo. Desconfiar. Isso quase sempre dá errado. Entre o certo e o errado eu prefiro os amigos. Fico com os amigos. Pronto. Dou-me completa. Tenho muitos amigos. Poucas amizades. Dou-me vencida, vencedora.

Agnes.

12 comentários:

Anônimo disse...

"Todo mundo precisa de um mundo. Eu não sou todo mundo, sou um mundo sem mundo. Sou perdida no espaço. Pouso de mundo em mundo."

Melhor parte!

Anônimo disse...

O Bao ressaltou uma parte que me chamou muito a atenção. Gostei mesmo. E concordo... Mas... Meu mundo ainda está em construção, ou em reconstrução. Culpa minha, mas enfim... Espero aos poucos eu espero ser um mundo que alguém precise.

=****

Anônimo disse...

Confiar é mais fácil do que imagina

Anônimo disse...

Todo ser humano fica cego por suas utopias e acaba se dando conta de seus erros (será que são erros?) depois.
Gosto muito de uma frase do Roger, vocalista do ultraje: "É melhor se arrepender do que se fez, do que não ter tido a coragem de se fazer.".
Em relação aos amigos, cultive-os, cative-os, são as melhores coisas que temos em nossas vidas. A confiança vêm com o tempo e precisa ser conquistada pelos amigos.
Para encerrar, quero te dizer: Você é minha amiga e eu confio, muito, em você. Você conquistou minha confiança, meu respeito e minha mais sincera amizade. Você já sabe tudo o que penso de ti, do qual especial você têm se mostrado.

Desculpe um comentário tão grande... as vezes (muito poucas) não me contenho nas palavras...

Te amo e te adoro!

Anônimo disse...

Gostei do texto, mas achei meio depressivo. Quer dizer, não exatamente depressivo. Conformista. Eu tinha aceitado me entregar ao conformismo no meio do ano, mas aí o caldo desandou, e fodeu tudo. :P
Pelo menos as coisas tomaram um rumo diferente.
Enfim, lembrei dessa musica:
(8)
Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero ...

Anônimo disse...

Adorei!
Mas namorado também pode ser amigo, ai não fica tão dificil assim.

TE AMO!!!

;**********

Anônimo disse...

Mininaaaaaa,nunca comentei aki,mas esse eh,sei lah,nem sei...se sei...naum explico...se explico num chego perto...prefiro os pontinhos entao...Qnd li lembrei do semestre passado qnd perdemos(ganhamos e mt) a hora no benfica!!!Distanciaaaa...saudade...Mininaaaaaa
Ps:tomara q saiba quem sou eu neh...

Anônimo disse...

Te amooooooooooo!!!

http://www.flogs.com.br/angellioncourt/

Anônimo disse...

bekaaa!


foi vc q escreveu?
usou esse agnes de pseudonimo?
eh muuuuuuito bom!
vc manda mt!
o jp disse q tem uma proposta pra nos!


bju

amo!

Anônimo disse...

Acho que o Neo falou tudo... É fácil confiar, e mais fácil ainda perder a confiança. Temos medo. E esse medo nos faz ficarmos no porto seguro que são nossos amigos. Mas será que adianta ter o barco e não aproveitar a turbulência marinha?

=****

Anônimo disse...

Às vezes esqueço do qüão bem vc escreve e de como invejo isso.

Anônimo disse...

que bom que tem amigos, mas me diz qual o namorado que não é complicado? e como disse o neo-, confiar é muito, muito, muito fácil, mas confiar na pessoa certa é outa história.

bjos!

e dentro de alguns meses, apenas 7 horas nos separarão.....

Histórico


as primeiras ideias...