segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Irmãs.

Estava escuro, o relógio badalava a estridente melodia da meia-noite – como em um conto de quinta, escrito por um falso intelectual vestindo sua camisa de flanela com o rosto do Cazuza estampado no peito, decerto com já muitas doses de gim correndo por seu corpo e algum entorpecente em seu sangue. A escuridão e a contínua badalada embalavam Agnes, que rolava na cama, ainda tentando dormir, sem sucesso. Na escuridão do seu quarto, uma curiosidade medrosa abria seus olhos a todo o momento. Estavam buscando algo, talvez, que calasse as perguntas, ou que atiçasse ainda mais a curiosidade da moça. O ar parado, o calor, a insônia... Ela se sentia, de fato, em um conto mal escrito, que seria lido, mais tarde, para um grupo de góticos mal-amados que sentem orgasmos com historinhas de terror de sessão da tarde; com direito a palavras marcantes e a enredos repetidos.

Melhor seria abrir a janela. Levantou-se e, sem acender a luz, abriu a janela de madeira que dava para o jardim. Sentou-se no parapeito e, encolhendo as pernas, lá ficou, olhando a noite. A brisa que entrava trazia em seus braços um perfume exótico. Diferente. Estranho. Bom e ruim. Agnes não sabia de onde vinha, mas aquele cheiro a estava entorpecendo. Ela sentia vontade de levantar e de ir em busca da fonte, mas suas pernas pesavam e o ar custava a entrar por suas narinas. Ela não agonizava, não parecia precisar tanto de oxigênio quanto estudara. Estranho. Seu quarto estava fracamente iluminado pela luz dos postes que havia na rua. De onde estava, não podia ver a lua e não havia muitas estrelas visíveis no céu. A brisa cessara, junto com o perfume, mas isso, agora, não era uma de suas maiores aflições. O céu não estava chamativo, a brisa talvez não fosse fazer falta... nem mesmo a coruja que pousara no muro do vizinho parecia despertá-la. Ela sustentava um olhar perdido que atravessava o jardim e corria pela rua que o muro escondia. Parecia sonhar com algo inexeqüível. Parecia dormir.

Os latidos e os uivos dos cachorros, irritados com um gato que os desafiava de cima de uma árvore; ou a buzina dos carros que passavam na avenida próxima. Nada disso era capaz de tirá-la do seu atual estado de letargia. Estava absorta em seus pensamentos, em sua insônia. Notaria o ar parado e o calor que continuava a invadir suas narinas, mas estava em um coma tão profundo e insensível que mal percebia o suor escorrendo pelas têmporas. O calor crescente, o suor, a letargia. Agora o ar estava cada vez mais escasso e ela já sentia certa agonia ao tentar respirar. Passava as mãos pelo pescoço, massageando o esôfago, numa frustrada tentativa de abrir caminho para a respiração. A escuridão não cessava e ela não via a hora de amanhecer, há quanto tempo estaria ali? Mal conseguia pensar, mal conseguia agir e, agora, mal conseguia respirar. Sentiu qualquer coisa molhada e grossa escorrendo por seu rosto: saindo de suas narinas e entrando por sua boca. Um gosto familiar, mas que gosto seria aquele? Sangue. Lama. Não tinha certeza. Levantou-se, sorumbática, agonizando por não despertar. Suas juntas doíam como se fossem romper a qualquer momento, era difícil andar e o quarto parecia ainda mais extenso.

Esbarrou em algum móvel, parecia-lhe uma mesa, mas o que diabos estaria fazendo uma mesa no seu quarto? Ela tateou a mesa e encontrou um corpo sobre ela, estendido, gélido. Angústia não seria o melhor termo para descrever o que Agnes estava sentindo. Seu esôfago parecia fechar-se e sentia cada órgão seu sendo consumido lentamente, sendo mastigado, degustado. Sentia sua pele formigar, milhares de insetos a devorando célula por célula. E o quarto nunca lhe parecera tão grande, ao contrário, sempre achara até muito pequeno para ainda ter que dividir com a irmã. A irmã. Foi então que lhe ocorreu chamar pela irmã. Gritava a plenos pulmões, mas não saía voz alguma. Notava agora que não ouvia qualquer ruído, nem mesmo de seus pés arrastando no chão. Estaria surda? Muda? Surda e muda! E esse interruptor, onde estaria?

O ar voltou a penetrar seus pulmões com extrema violência; o perfume que a inebriara horas antes, agora era tudo o que podia sentir. Ele invadia seu corpo, seu sentido e parecia aliviar, ou mesmo curar, aquela irritante agonia. Ele a entorpecia outra vez. Ele a envolvia com força, com grosseria; como correntes. Não conseguia se mover e notava-se, outra vez, deitada em sua cama. Dura a cama. Não... não, não era sua cama. Estava deitada na mesa; era ela quem estava esticada e dura sobre a mesa; era ela o corpo que tateou às cegas; era ela; era dela. Os sons voltavam aos poucos e ela ouvia gritos e choros. Tinha aquela fragrância de vela queimando. Mãos a tocavam, desconsoladas, e lágrimas caíam sobre si. Tentava e tentava: não podia se mover; ela não podia se mover! Não podia. A luz. Agnes acordou assustada e adormeceu outra vez. Sentiu algo fino e gelado penetrar seu braço e injetar qualquer coisa em suas veias. A irmã. E tudo era passado.

14 comentários:

Anônimo disse...

o.O

e jah acabou???

entaum tah...

=***

Anônimo disse...

Toda vez...
A mesma impressão ^^

Anônimo disse...

Nussa!
Das trevas! XD

Gostei mwuahuhwauahw O final totalmente louco! :D Muito bom =*

Anônimo disse...

Oieeeeeeeeee

Tah maxa viu!?!?

Bjjokkss!!!

Anônimo disse...

oiiiiiiiiiiiiiieeeeeeeeeeeee...
pra dizer q passei por aq tah...hehehe
bjaum do migoooooooooo

Anônimo disse...

Gostei muito do final também \o

Anônimo disse...

como q o povo pode ter gostado do final, c naum tem??? o.O

Anônimo disse...

Que locu... gostei da maneque que descrevel oque aconteceu nu fim... bem sutil.
Bjus

Anônimo disse...

Caramba!!!
Definitivamente uma narrativa que prende!
Adorei, maninha!
O mesmo talento de sempre pra esrever.
Parabéns!

=***

Anônimo disse...

*olhando os comentários*
Cê conhece OUTRO Bob?! Ô.o
(pensando bem, eu tbm conheço... ¬¬)

Caraca o texto tá DEMAIS! MUITO bom!

Beeeijos, Bek!

Anônimo disse...

Texto interessante.

O final ficou muito legal.
^^

Anônimo disse...

Bek... assim não dá... vai ter que escrever um livro... :P

Para de escrever tão bem assim menina... desse jeito vai ficar famosa e esquecer de pobres mortais como eu...

Beijos!
Te amo e te adoro!

Anônimo disse...

Queria ter entrado antes pra ler, mas nunca dava tempo. Sempre entrava rapidão só pra postar e ir embora. Desculpa não ter visto antes. Foi mal mesmo. :/

Poxa, eu gostei muito desse conto. Posso usar um termo que aprendi esse ano? É meio conto "fantástico". Aquele que mistura experiências antigas, medos, infantilidades, sonhos... Achei muito bom, vc sabe colocar muito bem as palavras e a sacada no final ficou perfeita! ;)

Esse não eh um gênero que aprecio muito, mas nesse seu texto eu realmente me inspirei! :D

Beijoooooos, não páre de escrever, não ta?

:*

Anônimo disse...

mt mt bom.
e permite muitas interpretaços.
e pode n ser nehuma delas.
assim é um bom conto.
para mima irma dela esta morta ou ela esta morta e fez uma viagem astral e se viumorta.
:p

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