quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

das podas e dos verbos

Está claro: o verbo dito é libertador e o não dito são saúvas na cerca viva sempre e todos os dias bem podada.

Salvador Dalí

Está claro: a poda, enquanto estratégia de cuidado, enquanto manutenção da saúde, está longe de ser saudável, podendo ser, quando muito - e, ainda assim, numa tentativa caridosa-quase-masoquista de se compreender o jardineiro (ou o chacareiro) - esteticamente necessária.

O galho liberto, a folha desenquadrada, o emaranhado, o excesso de desejo-vida-fruta-cor-flor, a desordem e o caos fecundos: está claro: não são apropriados para a estética-ética-sorridente de um jardim bem cuidado.

Está claro, ainda, que, liberta, com galhos e cores sobrando, viveria em natural simbiose com as saúvas e palmos de folhas não se fariam notar na cerca viva.

Está, então, muito mais claro que o verbo dito é a poda não feita. O verbo não dito são saúvas na cerca viva, abrindo caminho entre a liberdade para a possibilidade de se pronunciar; e abre palmos de buracos que jamais se fecharão em plano encontro com todo o resto da superfície podada.

Por isso, disse - já tinha alguns metros de buracos não recompostos.

Histórico


as primeiras ideias...